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Criar o Mundo do nada. A invenção de uma historiografia da música popular no Brasil

Tipo de documento:
Tese de Livre-docência

Autor:
Moraes, José Geraldo Vinci de Moraes

Local:
USP - FFLCH

Data:
2018

Publicação - Livros / Artigos

Palavras-chave:
Historiografia Acervos
Música Popular Historiadores e cronis-tas Cultura Urba-na

Resumo:
Resumo:
Esta tese é parte de um trabalho mais abrangente de investigação desenvolvido há anos no de-partamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais da Universidade de São Paulo. No seu sentido mais amplo, ele sempre esteve preocupado com as culturas popula-res urbanas de maneira geral, produzidas na primeira metade do século XX e, mais especifica-mente, com as culturas musicais. As pesquisas realizadas em torno desta temática prioritária procuraram associar elementos presentes nos processos de conhecimento vinculados a História, a Música e, sobretudo, a uma zona híbrida de difícil definição. Essa condição elusiva muitas ve-zes criou inúmeras dificuldades e também incompreensões dos universos acadêmicos já plena-mente sedimentados como áreas rígidas, mas ao mesmo tempo permitiu novas experiências e exercícios mais criativos para a compreensão das sociedades humanas. Entre as várias pesquisas desenvolvidas nestes contornos gerais, esta apresenta particularmente uma investigação que aproxima questões relativas ao universo da música com a minha área de concentração departa-mental de Teoria e Metodologia da História, e à disciplina de graduação de Metodologia da His-tória. Desse modo, surgiu um trabalho investigativo pouco comum de crítica historiográfica e musical, que pretende compreender e discutir aspectos da sociedade brasileira tendo como chave decifradora a música popular e as ideias produzidas em torno dela. Essa produção intelec-tual dispersa, na realidade, partiu nos meados do século XX dos estratos populares em contato e relação constante com as culturas de elite e as modernas culturas eletrônicas e midiáticas. Os personagens envolvidos neste fascinante processo participaram ativamente da construção da nova cultura musical em curso, erguendo também sua memória social e coletiva, mescladas com suas recordações pessoais. Ao mesmo tempo, trataram de refletir sobre elas e rapidamente inventaram uma inaudita tradição musical urbana. A partir de certo momento essa tradição e suas questões relativas ao passado entrelaçadas com as questões do presente começaram a ser discutidas e registradas em livros, ultrapassando os limites da canção, dos meios de comunica-ção eletrônicos e da imprensa, operando assim também numa espécie bem original de história intelectual. Nesse jogo fértil e repleto de dilemas entre as memórias, o justo desejo de discutir ideias e produzir história, esses sujeitos criaram “um mundo do nada”, na curiosa expressão de um deles. E para isso construíram uma verdadeira “operação historiográfica” que inventou uma História da música popular para o Brasil, institucionalizando-a a partir de um certo momento com uma visão muito peculiar.
Os oito capítulos que compõem essa tese pretendem justamente reconstruir criticamente esse processo cultural iniciado nos anos 1930 de maneira completamente dispersa, até sua instituci-onalização nos anos 1960-70. Antes, a Introdução apresenta uma discussão teórica sobre as pos-sibilidades de aproximação da história com a música e o universo da escuta, e suas implicações teóricas e metodológicas para o historiador contemporâneo. Ela é seguida nos dois capítulos subsequentes por uma discussão também abrangente sobre as preocupações e perspectivas presentes no universo da escuta e da música no Brasil desde o início do século XX. Já os capítu-los 3, 4, 5, 6 e 7 discutem como os autores imersos neste criativo e inusitado processo intelec-tual, produziram uma escuta e crítica musical muito particular para a época e esboçaram a cons-trução de uma historiografia marcante e influente que se institucionalizou nas décadas de 1960-70 (capítulo 8).