Enredos Cariocas em Palavras Cantadas: A Cidade do Rio de Janeiro do Séc. XX nas Representações de Noel Rosa e Chico Buarque.

Dissertação de mestrado

Patrícia Nogueira Silva

Maria Therezinha Ferraz Negrão de Mello

UnB

2005

Século XX; Chico Buarque; Noel Rosa; Cotidiano urbano; Rio de Janeiro

Ao abrigo da história cultural, o presente estudo tematiza o cenário urbano, adotando como suporte empírico discursos musicados dos compositores brasileiros Noel Rosa e Chico Buarque. Estes comparecem como narradores, cujos modos de ver a cidade dialogam, deixando entrever os jogos intertextuais que perpassam os respectivos discursos, em meio às especificidades das condições sócio-históricas e culturais de produção. A investigação teve como eixo norteador a convicção de que os autores elencados são sujeitos-suporte de discursos que sugerem reativações e imbricações, posto que guardam em comum a cenografia carioca, não obstante vivenciada e representada em conjunturas distintas. Privilegiando a esfera do cotidiano, este estudo visa a auscultar a cultura e a vida social na cidade do Rio de Janeiro no século XX, a partir das representações que emergem dos discursos musicais. As representações desta cidade, cujos atributos permitem pensá-la como metonímia do Brasil, revelam o modo pelo qual a cultura carioca, ao longo do processo histórico, concorreu para a construção de uma certa brasilidade. Esta pesquisa teve como objetivos desenvolver uma reflexão sobre modulações do cotidiano carioca, bem como destacar a importância das articulações entre história e música. Inspirada na Análise do Discurso, a abordagem escolhida conduziu a seleção das letras em Seqüências Discursivas, a partir da “freqüência-ausência” dos temas que determinaram a escolha das modulações do cotidiano pinçadas dos discursos musicados. São elas: o trabalho, o lazer, as festas, o emprego do tempo, a crítica social, o vestuário, o universo vocabular, os modos de comunicação, as questões de gênero, além das representações da cidade, seus bairros, bares e demais “lugares praticados”, e dos personagens cariocas, com destaque para a figura do malandro. Na polifonia citadina, foram buscados os elementos constitutivos das identidades de lugar, de grupos sociais e de gênero, além das reelaborações de representações que se ancoram no imaginário social traduzido nos textos analisados. As análises das condições históricas de veiculação destes enunciados e dos sentidos possíveis das tramas, temas e situações que os atravessam perpassam toda esta reflexão, que se inicia com uma breve síntese biográfica dos narradores em questão. O corpus teórico utilizado integra categorias e noções como cultura, representação, cotidiano, imaginário, intertextualidade, dialogismo, ressonância e ressemantização. A julgar pelas representações da cidade do Rio de Janeiro, os projetos urbanos que experimentou e seu papel como cidade inspiradora de manifestações artísticas, especialmente o repertório musical, de fato, tem-se aqui um exemplo claro das imbricações entre o real e o imaginário.