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Ópera do Malandro de Chico Buarque: História, Política e Dramaturgia.

Tipo de documento:
Dissertação de mestrado

Autor:
Cláudia Regina dos Santos

Orientador:
Rosângela Patriota Ramos

Local:
UFU/MG - DH

Data:
2002

Publicação - Livros / Artigos

Palavras-chave:
Década de 1970; Música e Política;Teatro;Ópera do Malandro;Brasil

Resumo:
O entrecruzamento interdisciplinar entre História e Teatro, procuramos no presente trabalho redimensionar a dramaturgia de Chico Buarque de Holanda, a partir de um objeto de estudo privilegiado, a peça Ópera do Malandro. Escrita em 1978, a obra trata-se de uma adaptação das Ópera dos Mendigos, de John Gay, e Ópera de Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill. Gay escreve sua peça no século XVIII, numa crítica direta à corrupção de costumes que então estruturava-se na sociedade inglesa. Utilizando-se de um linguajar próximo ao das camadas subalternas, o dramaturgo satiriza uma "nova era" em que riqueza e ruína caminhavam pari passu, em meio às contravenções do Primeiro-Ministro, Robert Walpole. Brecht, comemorando o bicentenário da obra de Gay, escreve em 1928 uma peça precursora em termos de inovação estética, por lançar, além da forma épica de teatro e das técnicas de distanciamento, a música como elemento central no desnudamento do universo burguês. O teatro épico enxerga o homem como um ser mutável, capaz de transformar o instituído, a partir de sua conscientização. Este é o ponto preciso em que a Ópera de Três Vinténs procura atingir o público, ao traçar um paralelo entre as fraudes e crimes do submundo à corrupção mais profunda e respaldada na lei, vigente nos altos escalões da sociedade. Chico Buarque por sua vez identifica suas personagens às de Gay, inclusive por meio de um diálogo recheado de vulgarismo do dia-a-dia, e aproveita-se da estrutura dramática de Brecht para adaptar uma ópera, de acordo com o cenário político e social brasileiro. A Ópera do Malandro se passa em fins do Estado Novo, mas tem como alvo os efeitos da modernização autoritária implantada com o golpe de 64. A discussão das três peças, tendo como enfoque principal a obra de Chico, levou-nos, ainda, ao contato com a esquerdização do teatro brasileiro a partir da metade dos anos 50, o que nos permitiu localizar a atuação deste artista no campo da resistência democrática, e a Ópera do Malandro como um referencial para se diagnosticar a realidade do país sob a égide da ditadura militar.