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Na esquina do mundo: trocas culturais na música popular brasileira através da obra do Clube da Esquina (1960-1980).

Tipo de documento:
Tese de Doutorado

Autor:
Luiz Henrique Assis Garcia

Orientador:
Regina Helena Alves Da Silva

Local:
UFMG - UFCH

Data:
2007

Publicação - Livros / Artigos

Assunto:
Regime Militar

Palavras-chave:
1960-1980; Ditadura Militar; Clube da Esquina; indústria cultural; Música popular brasileira

Resumo:
A proposta desta tese é abordar as trocas culturais na MPB das décadas de 1960 e 1970, tendo como fio condutor o conjunto das manifestações musicais identificadas ao Clube da Esquina. O que torna de particular interesse esta formação cultural, neste sentido, é a diversidade de fluxos culturais que de alguma forma transitam nos trabalhos de seus membros, e, de modo característico, a forma específica desta diversidade se apresentar. Entendo que os músicos do Clube da Esquina adotaram soluções criativas distintas de outros projetos ou caminhos de músicos seus contemporâneos, oferecendo uma proposta de interculturalidade que superava dicotomias tão presentes em seu tempo, entre o “nacional” e o “estrangeiro”, o “popular” e o “erudito”, o “tradicional” e a “vanguarda”, mas sem optar pelo contraste nítido destes elementos, usando, ao contrário, estratégias de aproximação crítica e descoberta de afinidades insuspeitas que permitiram sua combinação na criação musical. Torna-se, portanto, fundamental compreender através do arsenal teórico pertinente os mecanismos que intervém direta ou indiretamente no complexo fluxo de trocas desiguais inter e entre a escala global, nacional, regional e a local, cujas fronteiras são o próprio locus de vários conflitos e acomodações protagonizados no quadro de internacionalização da cultura e consolidação da indústria fonográfica. Proponho conseqüentemente entender o Clube da Esquina dentro de um quadro mais amplo, o de delimitação e consolidação da MPB. Abordo sua história como resultado de trocas culturais que envolveram a disputa das categorias de “nacional” e “popular” no contexto politicamente radicalizado pelo Regime Militar, a incorporação estética de elementos musicais locais, regionais ou internacionais, a re-valorização de certos gêneros e tradições e o re-posicionamento dos compositores em relação ao mercado e a sociedade, contudo sem implicar a perda do prestígio de sua “aura” artística. Os músicos, ainda que em vieses diferentes, compartilharam o entendimento de que a modernização da música popular brasileira não deveria ser refratária em relação à tradição. Por outro lado, estiveram em geral distantes de uma leitura “folclorista”, essencialista e excludente em relação a outras tradições ou inovações, o que pode ser percebido em seus anos de formação e na diversidade de modos de assimilar os fluxos culturais.Assim, procurarei mostrar que as saídas encontradas pelo Clube da Esquina para os dilemas de sua época passaram pela adoção de uma identidade cosmopolita que não descuidou do elemento local, mas também não o reduziu ao exótico ou ao típico. Daí a imagem da “esquina do mundo”, síntese simbólica desse modo particular de posicionamento de seus membros.