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''Os que vivem da Arte da Música - Vila Rica, século XVIII''
Tipo de documento:
Dissertação de mestrado
Autor:
Aldo Luiz Leoni
Orientador:
Silvia Hunold Lara
Local:
UNICAMP -IFCH
Data:
2007
Publicação - Livros / Artigos
Palavras-chave:
Século XVIII; Atividade Musical na Colônia;
Resumo:
Dissertação em formato digital:
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000415282
O tema desse trabalho se refere à inserção do músico na sociedade mineira do século XVIII, em especial em Vila Rica. A investigação leva em conta como a música se configurou em um possível meio de ascensão social dos extratos menos privilegiados, notadamente os pardos e o que significou sua presença nesse grupo profissional. A economia aurífera motivando o início da ocupação de Vila Rica não era a única atividade ali desenvolvida. Havia uma certa diversidade econômica que também pode ser observada na organização social. Numa ponta estavam os donos de datas minerais e na outra os escravos; entre esses dois extremos existia uma massa que estava à margem dos lucros obtidos com o ouro. Essa massa se ocupava no pequeno comércio ou compunha os ofícios mecânicos. Naquela sociedade a desqualificação atingia principalmente os que tinham sua condição social impressa na pele e eram obrigados a sobreviver por meio dos ofícios que eram “em tese” desprezados pelos extratos superiores. Analisando a condição dos negros e mulatos livres ou libertos Russell-Wood ressaltou que a política da coroa portuguesa obstruía deliberadamente a integração dos afro-descendentes à sociedade colonial no Brasil. Os descendentes de africanos eram discriminados através das leis e freqüentemente não se fazia distinção entre pardos forros e mulatos livres. Muitas vezes, como no caso das Minas Gerais e do Rio de Janeiro, onde os mulatos tinham melhor educação, muitos conseguiram romper o cerceamento às atividades preferencialmente da elite. Em Minas houve uma certa tolerância à sua presença e eles até conseguiram chegar a exercer postos de juiz de vintena, escrivães e militares. Nesse contexto em que a distinção social era objeto de muitas disputas, o homem livre pobre e, em especial os pardos, encontraram por intermédio da atividade musical um meio de fazer alianças e conquistar uma posição social que normalmente não poderia ocupar. Ao longo do período colonial, a música teve sempre papel de destaque nos ritos sociais do antigo regime, tanto nas cerimônias de exaltação religiosa e nas igrejas e procissões como também no entretenimento das festas de cunho popular ou oficial. Como o poder metropolitano procurou imiscuir-se em todas as esferas da sociedade colonial e essas celebrações também tinham a intenção de produzir a aceitação do poder real. Participando ativamente de muitas destas celebrações, o músico teve acesso lateral a posições de destaque. Em uma sociedade altamente hierarquizada, em que as marcações sociais seguiam códigos estritos, a proximidade com a elite significou um fator de distinção perante as elites e também em relação aos seus pares. A vontade de se distinguir de brancos e negros fez com que o pardos constituíssem uma identidade própria. A atividade Musical sempre foi um nicho importante para os pardos de Minas Gerais. Mesmo não aparecendo na condução dos acertos com entidades pagadoras na primeira metade do século XVIII sob a superfície estavam formando laços e solidariedades para a partir de meados do século quando houve uma oportunidade política se tornarem efetivamente mestres de suas próprias vontades e acertando diretamente preços e condições de sua atividade.