Bandas de Música em São Paulo no início do século XX

Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX as bandas de música ocuparam de maneira muito atuante os espaços públicos da cidade de São Paulo. A potência sonora desses conjuntos, sua formação instrumental variada – mas sempre centrada nos sopros e ritmo -, a quantidade geralmente numerosa dos músicos, a variedade do repertório e a mobilidade de suas apresentações, faziam delas presenças marcantes na cidade. Elas participavam das festas e comemorações cívicas, religiosas e populares. Estavam também nos espetáculos teatrais, nas salas musicais e salões de bailes, nos coretos e outros tantos locais onde a música estivesse presente. Centenas de grupos com essas características circularam pela cidade. Alguns poucos sobreviveram por muito tempo, como as bandas Lira da Lapa e a da Força Pública que existem até hoje. Inúmeras tiveram vida mais transitória, desaparecendo por vários motivos. E dezenas delas existiram apenas circunstancialmente, vinculadas a determinados acontecimentos particulares. Agrupamentos militares, cooperativas e sociedades de imigrantes, sindicatos e associação de trabalhadores, organizações religiosas, escolas, teatros e comunidades de bairro, formaram em algum momento uma banda. Muitas delas funcionaram como escolas informais de música ou como uma possibilidade de vida artística profissional permanente. Antes da disseminação dos meios mecânicos e depois eletrônicos de difusão, elas formavam um circuito importante de divulgação e mediação pública da música, tanto a de concerto como a popular. O vigor sonoro e organizado desses grupos também foi importante no início das primeiras experiências das gravações mecânicas. Com a evolução técnica e comercial da indústria fonográfica, seguida pela expansão da radiofonia e de um novo circuito musical e de entretenimento, a presença delas declinou e a influência decaiu. A partir desse novo panorama cultural, prevaleceu a inatualidade da condição cultural e musical das bandas de música. Neste banco de dados você poderá conhecer um pouco desse universo acompanhando as tabelas e os registros sonoros de algumas bandas importantes da época: da Força Pública de São Paulo, a Ettore Fieramosca, a Giuseppe Verdi e a Verissimo da Glória.

Banco de Dados

Bandas de Música em São Paulo no início do século XX

 

BANDA DA FORÇA PÚBLICA DE SÃO PAULO

O grupo musical da Força Pública de São Paulo é uma banda característica e pioneira da cidade de São Paulo. Sua história está vinculada às instituições policiais e existe até hoje como Corpo Musical PMESP. Sua trajetória teve início em 1843, quando a força policial ainda era a Guarda Municipal Permanente e por essa razão o grupo ficou conhecido como a Banda dos Permanentes. Mas nessa longa trajetória ela assumiu diversas denominações, acompanhando as mudanças na instituição policial: Banda da Força Pública, da Força Militar de Polícia e da Força Policial. Certamente sua longevidade está vinculada a solidez dessa instituição de estado, que deu estabilidade à banda. No início do século XX o conjunto teve grande presença nas atividades musicais públicas e privadas, apresentando repertório variado e rico. Rapidamente ela se tornou uma referência para as outras bandas existentes na cidade. Nesta época o maestro Joaquim Antão Fernandes foi o regente que mais tempo permaneceu dirigindo a banda e alcançou prestígio artístico na cidade. O conjunto participou também ativamente da indústria fonográfica, principalmente na sua fase mecânica, como era comum à época. Algumas dessas gravações são apresentadas a seguir. Até a década de 1930 a banda foi muito atuante, perdendo um pouco de sua representatividade musical a partir do novo panorama cultural que surgia, como aliás ocorreu com todos os conjuntos musicais com essas características.

ROTEIRO DE ÁUDIOS

Arquivos de Áudio

A vassourinha
Amor Saudoso
Ao clarão da lua
Atraído por uma flor
Japonês
Manuelita
O maxixe
Rio Branco
Titita
Tudinha
Valsa Lenta
Viúva Alegre

BANDA ETTORE FIERAMOSCA
A banda Ettore Fieramosca surgiu vinculada à sociedade de imigrantes italianos homônima, localizada no Largo Riachuelo, nº 26. De acordo com os registros da imprensa, ela foi bastante ativa no início do século XX. Como era comum entre as bandas da cidade, ela se apresentava nos bailes de salão da própria sociedade, nas festas dançantes de outras associações e grêmios, nos coretos e em festas públicas e populares. O conjunto foi dirigido pelos maestros Puglieli e, principalmente, João Migliori. Ingressar nos estúdios de gravação, entre 1909-1913, revela de algum modo a importância musical do conjunto na época.

ROTEIRO DE ÁUDIOS

Arquivos de Áudio

Bela Chilena
Desfolhando Rosas
Los Toreros
Noventa e dois
Paulistinha
Quanto dóe uma saudade
Rédea solta
Segredo
Sonho perigoso

GIUSEPPE VERDI
As informações sobre a banda Giuseppe Verdi são muito dispersas e lacunares. Evidentemente foi uma banda associada à comunidade de imigrantes italianos e uma homenagem ao famoso compositor peninsular. Um dos regentes foi o maestro Luigi Forlin. Os rastros deixados indicam que ela teve importância no quadro geral das bandas paulistanas, uma vez que o conjunto sempre estava presente com destaque nos eventos públicos e privados da cidade. Além disso, participou de algumas gravações, como revelam os fonogramas das composições, Brasil Unido e Trianeiras.

VERISSIMO DA GLÓRIA
As informações sobre a banda Veríssimo da Glória são muito dispersas e exíguas. Certamente a origem da banda está vinculada ao maestro Veríssimo da Glória que regeu vários conjuntos à época como a banda do Recreio Artístico e alguns grupos militares, uma vez que era tenente da Guarda Nacional. Após a formação de seu próprio conjunto, a banda ganhou certa expressão a tal ponto que realizou algumas gravações, entre 1913-1920, nos estúdios paulistanos da Art-Phone, como revelam os 5 fonogramas apresentados.

ROTEIRO DE ÁUDIOS

Arquivos de Áudio

Giuseppe Verdi
Brasil unido
Trianeiras

Verissimo da Glória
América
Didinha
O conscrito
Os Viannas
Valadino

TABELAS
As tabelas a seguir apresentam panoramas abrangentes a respeito das bandas paulistanas. A primeira revela um inventário da produção fonográfica desses conjuntos musicais. Sem ser exaustivo, ele está baseado em várias fontes. Mesmo sendo incompleto e lacunar, certamente ele pode servir de base para os futuros pesquisadores. A tabela seguinte exibe um quadro parcial das bandas que se apresentaram na cidade entre 1888 e 1932. Elas foram agrupadas em algumas categorias arbitrárias com objetivo de dar sentido ao conjunto disperso. A quantidade de grupos musicais é bem significativa – mas de modo algum definitiva – e revela a presença e importância das bandas no cenário musical paulistano. A terceira mostra um panorama mais minucioso, embora evidentemente incompleto, do repertório e compositores mais executados pela Banda da Força Pública entre 1903 e 1930. Levando em conta a importância da banda militar e que esse repertório era reproduzido pelas outras bandas, a tabela alcança maior expressão e, assim, por meio dela é possível penetrar no gosto musical da época.

Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3

Rolar para cima